Nutrição Clínica Funcional
A nutrição funcional deriva da perspetiva da medicina funcional, sendo uma abordagem que considera o individuo como um todo, tendo em conta os fatores emocionais, ambientais, cognitivos, a genética e o estilo de vida e enquadrando todos os aspetos bioquimicamente e fisiologicamente.
Um dos principais objetivos prende-se com a deteção e correção de desequilíbrios e alterações orgânicas que possam conduzir a processos patológicos. Assim sendo, a nutrição funcional visa trabalhar na prevenção da doença, utilizando os sintomas como forma de chegar à raiz do problema.
Durante a consulta de nutrição são abordados temas tais como: fatores ambientais, situação emocional, hábitos alimentares e de atividade física, história individual de patologias próprias e familiares, uso de medicamentos, função gastrointestinal, hábitos e higiene do sono, etc. Para além disso é feita uma avaliação antropométrica com o intuito de determinar a composição corporal. O plano alimentar traçado é personalizado tendo em conta as informações obtidas durante a consulta, mas também os objetivos e ambições do individuo.
A ideia de que a consulta de nutrição serve unicamente para alteração da composição corporal é totalmente errada e limitativa. Na mesma linha de pensamento, tomar a decisão de iniciar um acompanhamento nutricional deve vir agregado com a motivação para mudar os hábitos alimentares e o estilo de vida de forma consistente, sustentável e duradoura.
Os nutrientes têm a capacidade de modular o funcionamento de todos os processos e reações que ocorrem no nosso organismo e, os défices nutricionais podem estar na origem de desregulações ou alterações de função. Temos como exemplo comum, o caso dos défices de selénio e zinco que têm um impacto direto no metabolismo das hormonas tiroideias.
Em casos de doença ou de disfunção já instalada, os alimentos ou as propriedades dos mesmos podem levar ao agravamento dos sintomas ou, por outro lado, auxiliar no tratamento. Assim sendo, numa situação patológica, a nutrição pode auxiliar e funcionar como complemento à terapia, para uma recuperação mais rápida e eficaz.
Dado que a nutrição é a forma de comunicação mais íntima entre o meio ambiente e o interior do nosso organismo, esta pode afetar todos os sistemas/órgãos. Assim sendo, a nutrição tem impacto em todas as disfunções e/ou patologias, podendo citar algumas: doenças autoimunes, infertilidade masculina e feminina, distúrbios gastrointestinais, acne; doenças crónicas, cancro, depressão, etc.
Para além das situações patológicas, uma nutrição adequada e personalizada ao individuo está também intimamente conectada com a diminuição da degeneração celular, tendo assim um grande impacto ao nível do atraso no envelhecimento, tanto físico como mental. É por esta razão que a nutrição é um dos pilares do programa de Smart Aging, contribuindo de forma preponderante para uma melhoria da qualidade de vida do individuo.
Apoio à cirurgia estética
Uma cirurgia, quer seja ela para corrigir uma componente estética ou decorrente de uma alteração fisiológica que o justifique, é sempre um elemento causador de stress ao nosso organismo. Assim, a preparação para uma cirurgia e o período de recuperação após a mesma exigem então alguns cuidados por parte do doente, cuidados estes que se devem também estender à alimentação, como forma de preparar o organismo para lidar com o stress decorrente da cirurgia e para diminuir a possibilidade de complicações e o tempo de recuperação.
Os nutrientes desempenham funções vitais no nosso organismo sendo que, sem eles, ou em caso de défices nutricionais, muitos dos processos metabólicos ficam comprometidos. Determinados nutrientes e fitonutrientes são importantíssimos no processo de cicatrização, e recuperação dos tecidos danificados, na melhoria da inflamação e da imunidade e na redução do stress oxidativo causado pela cirurgia.
Nutrientes como o zinco, o selénio, vitamina A, C e E devem ser avaliados e repostos caso se verifiquem deficientes, devido à sua direta contribuição na resposta imune e no processo de cicatrização. Por esta razão, níveis adequados destes nutrientes, e de outros tantos que funcionam como cofactores, são determinantes para o resultado final de uma cirurgia e para a rápida retoma à vida normal do paciente.
Para além disto, as complicações decorrentes de uma cirurgia plástica, nomeadamente fibroses, seromas, edemas e hematomas, podem ser minimizadas com o auxílio da nutrição, dado que, uma vez mais, algumas destas complicações podem surgir por défices nutricionais ou ainda devido ao status inflamatório do individuo. Um processo inflamatório crónico de baixo grau pode ter origem numa alimentação rica em alimentos processados, onde predominam as gorduras hidrogenadas e os hidratos de carbono de elevada carga glicémica e, consequentemente, numa baixa densidade nutricional.
Assim, todos os pacientes que têm como objetivo a realização de uma cirurgia, estética ou não, devem ter acompanhamento nutricional nas semanas que antecedem o procedimento para, desta forma, poder corrigir os hábitos alimentares para preparar o organismo para a intervenção cirúrgica, favorecendo a cicatrização e a recuperação.
Remodelação corporal não cirúrgica
Quando o assunto é a redução da massa gorda e a melhoria do aspeto da pele, a nutrição não pode ser colocada de fora da equação.
Uma alimentação desadequada e pouco correta conduz a alterações hormonais, aumento da inflamação, défices nutricionais e aumento da gordura corporal. Associado às alterações descritas e aliado a outros fatores de estilo de vida pouco saudável como o sedentarismo, hábitos tabágicos e padrões de sono desadequados, surge também a celulite e, muitas vezes, a flacidez dos tecidos.
Os alimentos que maior contributo têm para o padrão descrito são alimentos processados, com pouco interesse do ponto de vista nutricional, repletos de ingredientes inflamatórios e com elevadas cargas glicémicas. Os tratamentos estéticos não cirúrgicos são um contributo magnifico na redução da gordura localizada e na melhoria do aspeto da pele e da flacidez, não substituindo, no entanto, um acompanhamento nutricional e a prática de atividade física.
Aliás, os tratamentos estéticos não cirúrgicos devem fazer-se acompanhar por uma intervenção nutricional como forma de melhorar os resultados obtidos e de garantir que estes são duradouros.